(Vimieiro, ? – Vimieiro, 1839)
No ano em que se assinalam dois séculos passados sobre as invasões francesas e as guerras peninsulares, é impossível ignorar a figura de Alexandre Alberto de Serpa Pinto. O município de Cinfães que, embora não sendo a sua terra natal o é dos seus pais e avós, não o devia fazer, prestando o devido reconhecimento (talvez toponímico) a um dos mais importantes homens do Liberalismo – e, logo, da Democracia Portuguesa. Este militar, filho do Capitão-mor de ordenanças do Concelho de Ferreiros de Tendais, António de Serpa Pinto da Costa (bap. 02-06-1743) e de sua mulher Ana Angélica Maria Pinto de Abreu (fal. 15-11-1825), nasceu provavelmente em Vimieiro (freguesia de Sande, hoje c. de Marco de Canaveses), entre as décadas de 1760 e 1770, e distinguiu-se, numa primeira fase da sua vida, na defesa miliciana contra os invasores franceses e, depois, nas campanhas liberais do Porto e ainda no clima político que se lhe seguiu. Criado no seio de uma das mais nobres famílias das governanças do concelho de Ferreiros de Tendais (a qual tinha solar em Boassas), com ligações muito vincadas ao Porto e ao Minho, Alexandre Alberto, primogénito de nove irmãos, foi encaminhado para uma carreira de letras que já haviam seguido alguns dos seus familiares maternos, nomeadamente o seu tio-avó Quintiliano Pontes de Lacerda *, da Casa de Castro de Cio, Procurador do Estado de Bragança. Encontramo-lo, pois, em Coimbra, matriculado em 1799 no 2.º ano do curso de Direito, (AUC, Direito, 31-X-1798, matrícula, 2.º ano 2-X-1799), Universidade onde terá sorvido as ideias políticas e recebido os ventos ideológicos que o levarão a combater como militar pelo País e a servir o partido de D. Pedro de Bragança, Imperador do Brasil e Rei de Portugal. De facto poucos anos depois da sua formatura, a Europa seria varrida pelo Imperialismo tentacular de Napoleão. Portugal não escapa à cobiça hegemónica do Imperador dos Franceses e Alexandre Alberto não hesita em pegar em armas. Como homem de confiança do malogrado Freire de Andrade, executa serviços de espionagem, vigiando o General Loison (“o maneta”), que preparava a primeira invasão ao solo português (1807). Depois, destacou-se na libertação e defesa das cidades de Abrantes, Coimbra e Tui. Sobre o ataque a esta, em que se distinguiu ao lado do major Sebastião Pinto de Araújo e do Tenente Sá Baptista, foi escrito: «à frente de fracas forças atacou energicamente três mil soldados inimigos que se encontravam em Tui, pondo-os em completa debandada» (GEPB, vol. 28, pp. 464-465). Este feito e em particular a táctica que utilizou na conquista daquela cidade espanhola foram recentemente abordadas num Congresso sobre as Invasões Peninsulares. Durante a 3.ª invasão, ainda participou na libertação da cidade de Coimbra. Foi um dos bravos que desembarcou na praia do Mindelo, em Julho de 1832, ao lado de D. Pedro, tendo participado na conquista e defesa do Porto contra o exército miguelista – de forma tão briosa e corajosa que foi condecorado com o grau de Cavaleiro de Torre e Espada. Mas A.A. de Serpa Pinto não se notabilizou apenas no período das Invasões Francesas e das guerras liberais, como militar. Participou na construção do Portugal Liberal, como deputado às Cortes em 1823, 1834-1836 e 1838-1839. Deve-se-lhe uma intervenção na sessão de 20 de Maio de 1823, aquando de um projecto de divisão do território, em que agrupavam no Julgado de Cinfães os concelhos de Cinfães, Ferreiros de Tendais, São Cristóvão de Nogueira e Sanfins e no de Arouca, o de Tendais, entre outros. A este propósito, interviu, dizendo: «Eu queria que para este julgado [de Cinfães] passasse o concelho de Tendaes, que tem todas as communicações com Ferreiros, e confina com elle: além de que ficando pertencendo a Arouca tem de passar muitas, e mui altas montanas, intransitaveis no inverno». Assim foi aprovada esta moção, devendo-se a A.A. Serpa Pinto da Costa uma contribuição para a construção do actual município de Cinfães. Em 1836 esteve envolvido, com os dois filhos –António de Serpa Pinto e José Maria de Serpa Pinto * -, no movimento cartista que culminou na Convenção de Chaves (20-9-1837). Casou duas vezes, a primeira com a sua prima e parente, Joaquina Antónia de Lacerda da Silveira Ataíde Vasconcelos, da casa de Castro de Cio (Ferreiros de Tendais), de quem houve cinco filhas (uma delas Carlota Cacilda, mãe do explorador e africanista Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto*) e dois filhos, atrás referidos, ambos militares destacando-se o General José Maria de Serpa Pinto * (nascido em Boassas e baptizado em Oliveira do Douro a 20-03-1819). Casou a segunda vez com Isabel Laureana Mourão Figaniére (fal. a 31 de Agosto de 1867), irmã do Visconde de Figaniére, de cujo matrimónio houve dois filhos. Pensa-se que Alexandre Alberto de Serpa Pinto, como muitos liberais do seu tempo pertenceu à Maçonaria. Foi do Conselho da Rainha D. Maria II, Fidalgo da Casa Real (por alvará de 13 de Outubro de 1815), Comendador na Ordem de Cristo, Cavaleiro da Torre e Espada (como já referimos), condecorado com a cruz nº 3 da Guerra Peninsular, administrador da capela de Santa Maria Madalena, das Caldas de Aregos (administração que a rainha D. Maria estendeu por 2 vidas em memória do filho de A.A., José Maria, falecido em combate no Rossilhão, cf. Gazeta de Lisboa de 3 de Junho de 1794) e da capela de São Francisco da Vila de Setúbal, além das patentes militares que mencionámos. Faleceu em 1839, na sua quinta do Vimieiro, da freguesia de Sande. BIBLIOGRAFIA: S.A. – «Alexandre Alberto de Serpa Pinto». In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 28, pp. 464-465; REZENDE, José Cabral e REZENDE, Miguel Pinto de – Famílias nobres nos concelhos de Cinfães, Ferreiros e Tendais nos séculos XVI, XVII e XVIII. Porto: ed. [Carvalhos de Basto], 1988, p. 133; PINTO, Agostinho Albano da Silveira et alli – Resenha das familias titulares e grandes de Portugal, 2.ª edição. Lisboa: Edição de Empreza Editora de F.A. da Silva, 1991; PINTO, Luiz Bernardo Carneiro – «Descendências e origens» – VIII – Casa do Vimieiro, Raizes e Memórias, n.º 11 (1985) 179-180; AGUIAR, Manuel Vieira de, padre – Descrição histórica, corográfica e folclórica de Marco de Canaveses. Porto: Edição de Esc. tip. oficina de S. José, 1947, p. 215. Nota: a biografia dos nomes assinalados com asterisco (*) será desenvolvida em outros verbetes.
© Nuno Resende, Dicionário Biográfico e Histórico de Cinfães, n.º 2, 2009
Nuno Resende, Historiador
Nasceu na vila de Cinfães em 1978