«Os republicanos e o comicio do Porto»
Discursos, palavras, gestos declamatorios, telegrammas para a imprensa estrangeira annunciando a revolução, eis as armas que de se serve esse grupo de portuguezes para salvar a situação.
Só a república -entendem esses senhores- póde salvar o nosso credito abalado, restaurar as nossas finanças e melhorar a situação economica do paiz.
É ridiculo esse movimento; magoa até, vêr meia duzia de aventureiros, appellidarem-se de portuguezes, todos inchados de patriotismo, apresentaram-se para salvar a patria, quando, na quasi totalidade, ignoram os principios mais rudimentares de administração publica e desconhecem por completo a forma de restaurar o nosso credito e finanças.
Nem um plano, nem um alvitre, sequer, indicam. Cerebros vasios que, na sua ignorancia, pretendem saltar por cima dos homens praticos e de reconhecido saber, para impõrem uma ideia ao paiz que poderá ser bonita como ideal, mas deixaria em peor estado a nossa situação.
Quando, depois do ultimatum houve o movimento contra a Inglaterra pelo assalto de tigre com que nos feriu na nossa dignidade nacional, houve enthusiasmo que, por vezes, subiu até ao delirio, e a resistencia, embora exhorbitante, produziu algum resultado util.
Assim houve, e ainda ha, quem movido justamento pelo odio contra a Inglaterra, repudiasse productos da industria ingleza, para se fornecer dos de industria nacional. Este facto é legitimamente patriotico. (…)
Á semelhança do que se fez desejaria eu que esses patriotas republicanos, em vez de blafesmarem na praça publica, e insultarem pela imprensa as instituições e os homens publicos, se congregassem e unissem em um só pensamento, promovendo por todos os meios uma grande subscripção que tendesse a exonerar-nos dos encargos que pesam sobre a nação; que apresentassem e publicassem planos financeiros com o mesmo fim; e finalmente que fizessem alguma cousa de util e proveitoso para o paiz.
F., – A Justiça [de Cinfães], 5-Setembro-1897.

Nuno Resende, Historiador
Nasceu na vila de Cinfães em 1978