A. Cardoso Esteves

António Cardoso Esteves
São Cristóvão de Nogueira, 1886 | 1934
Licenciado em Direito pela U.C.
Administrador Municipal de Castro Daire
Secretário da Presidência do Tribunal da Relação do Porto

O texto que damos aqui à estampa, em formato digital e devidamente transcrito, foi adquirido há alguns anos num alfarrabista do Porto. Artigo anónimo, dactilografado, destinava-se, talvez, a algum jornal local ou regional e ainda que escrito em tom laudatório e hagiográfico é um documento interessante para o conhecimento das relações sociais e do período político de final da Monarquia e transição para a República, cujo centenário este ano se evoca.


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O Dr. António Cardoso Esteves, nascido no Temporão, lugar da Freguesia de S. Cristóvão de Nogueira, do concelho de Cinfães, foi um democrata convicto que militou no Partido Progressista ao lado de vultos eminentes, de entre os quais haverá que lembrar o “Deputado da Ponte” – o Dr. Amadeu Leite de Vasconcelos – como ele também natural da referida freguesia de S. Cristóvão de Nogueira.

Iniciou a sua carreira profissional em Cinfães como advogado após a sua formatura pela Universidade de Coimbra em 1909, mas em breve ingressou na magistratura, desempenhando funções de Delegado do Ministério Público nos Açores e depois na comarca de Cuba, no Alentejo.

Daqui transitou para o lugar de pólítico de Administrador do concelho de Castro Daire, aproximando-se, portanto, da terra da sua naturalidade, pois são concelhos limítrofes, ambos do Distrito de Viseu.

A sua actividade política dirigira-se sempre no sentido do engrandecimento de toda essa pulquérrima região que lhe servira de berço e que muito amou durante toda a sua relativamente curta existência.

No entanto, os períodos conturbados de antes e a seguir à implantação da República em 1910, a deflagração da primeira Guerra Mundial, e essa época do final duma guerra, que nada resolveu de positivo para a humanidade, e os períodos incertos que se seguiram até à revolta de Braga que culminou com a instauração de um novo regime político, não permitiram que pudesse firmar e afirmar a sua capacidade de homem de acção.
Era, o Dr. António Cardoso Esteves, um político de honestidade e lealdade indesmentíveis, e de princípios firmes, atributos reconhecidos pelos seus próprios adversários políticos.

Quando deixou de ser Administrador do concelho de Castro Daire foi para ocupar o lugar de Secretário da Presidência do Tribunal da Relação do Porto, lugar cujas funções desempenhava quando a morte tragicamente o atingiu em Abril de 1934.
Em todos esses lugares soube granjear amizades firmes e duradouras, porque o seu trato era afável, e sobretudo, a bondade imperava no seu modo de ser e de se conduzir. Tudo isso contribuía para se impôr, como político, à consideração tanto de correligionários como de adversários políticos.
Foi sempre fiel, em quaisquer circunstâncias, ao seu pensamento político, fôssem quais fôssem os regimes ou os governos partidários tão inconstantes no período compreendido entre a implantação da República //

e o advento do regime instaurado após o 28 de Maio de 1926.

Essa sua firmeza de convicções, demonstra o seu caracter digno, que segue em frente por uma linha recta e da qual nada o consegue desviar.

Esta sua firme conduta não podia, naquele conturbado período da politica nacional portuguesa, deixar de lhe criar dissabores morais e físicos, como facilmente se compreende e ainda mais facilmente o compreendem os que viveram nessa época e que ainda tenham a felicidade de viver nesta data.

Sofreu fisicamente, andando “a monte”, como então se dizia daqueles que tinham necessidade de se esconder para evitarem ser presos pelas autoridade às ordens dos dirigentes dos partidos adversos então nos “poleiros da governação”, e que estendiam a sua influência até às autoridades regionais civis e militares.

Se algumas vezes andou fugido, isto é, escondido, não evitou que também tenha sido detido e estado preso conjuntamente com corregilionários seus às ordens da autoridade civil do concelho.

recordamos alguns desses espíritos liberais que compartilharam com ele as tarimbas da prisão: – o já referido Dr. Amadeu Leite de Vasconcelos, Roque Calheiros, Dr. Cunha, Dr. Arnaldo Reimão da Fonseca, José Ferreira Pinto de Oliveira, e outros…

A política, porém, não representava para ele um trampolim para se alcandorar, mas dado o seu caracter bondoso e justo, procurava através dela que a sociedade encontrasse uma melhor e mais eficiente justiça social.

Teve uma existência curta, falecendo em Abril de 1934 com apenas 48 anos de idade, mas soube impôr-se cirando [sic] amigos, que muito tempo depois ainda o recordavam com amizade, e entre os adversários políticos alguns houve que ainda ha relativamente poucos anos se lhe referiam com palavras respeitosas.

Faz bem recordar pessoas que pelo seu passado tenham dignificado o homem; dar-se a conhecer aos vindouros as lições dessas existêcias [sic] para que possam servir-lhes de modelo e neste caso está a existência da pessoa do Dr. António Cardoso Esteves que acabamos, em traços largos, de referir e de caracterizar.

About the author

Nuno Resende, Historiador
Nasceu na vila de Cinfães em 1978

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