Cinfães tem um problema toponímico. Quer isto dizer que, na recente febre de baptizar todas as ruas, quelhos, congostas, becos e rotundas, tem-se ignorado que o município possui uma toponímia histórica, construída pelos seus habitantes e tem uma História, que os habitantes e os governantes municipais infelizmente ignoram. Talvez por isso se tenha optado por nomear artérias novas e antigas da vila de Cinfães com nomes de apaniguados partidários, heróis políticos nacionais e, mais raramente, um cinfanense (geralmente o mesmo, ou seja, Serpa Pinto). O problema é, contudo, regionalmente endémico e muito revelador do atraso cultural dos senhores que nos gabinetes das Câmaras decidem estas coisas. Já o é assim pelo menos desde o Estado Novo que baptizou as então pobres ruas de Cinfães com nomes de homens do regime, como Major Monteiro Leite ou Coronel Numa Pompílio. Mas, alguém, sabe quem foram estes homens? o que fizeram por Cinfães e qual a sua importância a nível nacional? Claro que não. Como amanhã ninguém saberá quem foi o fulano ou sicrano que sendo apenas mais um médico, um político, um padre ou um juíz que mais não fizeram do que cumprir a obrigação profissional, vêm o seu nome atribuído a uma rua . Entretanto perde-se a toponímia e a memória histórica, que de tão maltratadas andam pelas ruas da amargura. Ao menos dê-se a uma avenida nova o nome de Avenida dos Cinfanenses, como respeito por quem cá e pelo mundo fora chora a distância à sua terra. Anónimos que construíram com as mãos este concelho e por quem os grandes e poderosos cada vez têm menos respeito.
Nuno Resende, Historiador
Nasceu na vila de Cinfães em 1978