Muralhas das Portas

Cinfães, Alhões
O rectângulo a vermelho indica vestígios da muralha ainda visíveis
As ruínas da muralhas sitas próxima às Portas de Montemuro, entre as freguesias de Alhões e Ester e na divisão dos concelhos de Cinfães e Castro Daire, constituem provavelmente um dos melhores e maiores exemplares conhecidos de uma estrutura destinada especificamente à defesa da linha do Douro no período da Reconquista. Embora a maioria dos autores, desde Amorim Girão (1940)[1], João de Almeida (1943)[2], João Silva (1963)[3] e J. Inês Vaz (1986)[4] tivessem sugerido, quer a fábrica castreja, quer a organização daquele espaço pelos Romanos, o certo é que o carácter inacabado da construção, a ausência de traçado urbanístico e o posicionamento roqueiro estratégico (do local avista-se o maciço da Estrela), apontam para o resultado de uma situação bélica transitória. Somos, por isso, incitados a aceitar a teoria de um investigador local, Arnaldo Rocha [5]que em artigo de 1992 imputou aos contendores do período pré ou pós Reconquista o planeamento e edificação desta estrutura, posicionando-a cronologicamente entre os séculos VIII e XI. Afinando um pouco mais esta datação, diríamos (apontando exemplos conhecidos para a zona de Leão) que a muralha das Portas (com um perímetro de cerca de 1500 metros quadrados) serviu o avanço cristão por volta do ano mil, quando o Douro foi transposto pelos cristão e os castelos de São Martinho e Lamego (na encosta norte do Montemuro) foram tomados por Fernando I, em 1057. É assim provável que, escolhendo um local estratégico, num dos pontos mais elevados da serra de Montemuro (ela própria uma muralha) à cabeceira de um vale de fractura, os exércitos cristãos tenham iniciado uma fortaleza ou atalaia como forma de consolidar as posições a sul do Douro e que tal obra, mercê da rápida tomada da Beira (demorou apenas um ano a tomar Viseu, depois da cidade de Lamego) ficasse incompleta.
Trata-se de um singular exemplar de arquitectura militar que, pelo seu significado histórico, simboliza o apaziguar da região e a abertura às novas correntes artísticas.
Infelizmente desde que se multiplicaram as estradas de acesso para acesso às torres eólicas este património (não obstante a sua classificação) tem vindo a ser alvo de constantes agressões.

NOTAS


[1] GIRÃO, Amorim – Montemuro. A mais desconhecida serra de Portugal. Coimbra: Coimbra editora, 1940.
[2] ALMEIDA, João de – Roteiro dos monumentos militares portugueses. Vol. I. Lisboa: edição do autor, 1945.
[3] SILVA, José da – «Os recintos fortificados de Baltar e do Montemuro». Lucerna, vol. III (1963) 126-135.
[4] CORREIA, Alberto; ALVES, Alexandre e VAZ, João Inês – Castro Daire. [Viseu]: Câmara Municipal de Castro Daire, 1986.
[5] ROCHA, Arnaldo – «A Muralha das Portas: algumas considerações para uma leitura diferente». Terras de Serpa Pinto, 2 (1992) 31-44.

About the author

Nuno Resende, Historiador
Nasceu na vila de Cinfães em 1978

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