Na entrada “Sinfães” composta por Pinho Leal para o seu dicionário geográfico intitulado “Portugal Antigo e Moderno (ed. 1874), o publicista narra as peripécias por que passou para conseguir obter informação sobre a terra. Tendo enviado inquéritos dirigidos ao presidente da câmara e ao pároco locais, nenhum respondeu ao quesito o que obrigou o autor a deslocar-se a Cinfães para colher in loco algumas informações geográficas e históricas. Em boa hora o fez pois, não obstante o seu tom ácido, é certo que as informações recolhidas em vida por Pinho Leal são mais valiosas e pertinentes que a colecção de boatos e fantasias que bebeu noutros autores.
De resto, já tivemos oportunidade para o referir em Sinfães, 1900, o facto de ser presidente da Câmara em 1862 (quando Pinho Leal enviou o seu inquérito) Manuel Pinto de Vasconcelos, um aguerrido liberal da Casa da Castanheira em Oliveira, pode ter precipitado o desprezo pelo autor e pelo seu trabalho como historiador. Sobejamente conhecido como apoiante do miguelismo, caiu sempre sobre Pinho Leal a discriminação de vencido vivendo sobre a tutela do regime vencedor.
Por outro lado era, no mesmo ano de 1862, abade de Cinfães o velho e doente José Pires de Carvalho, sacerdote que viria a falecer dois anos depois a 28-7-1864. Naturalmente que o cansaço e o provável desinteresse do eclesiástico perante um interrogatório particular poderá ter ocasionado o silêncio.
Com a deslocação de Pinho Leal a Cinfães ficámos, porém, a conhecer um pouco mais sobre o urbanismo da vila, a localização da primitiva câmara municipal e cadeia (junto ao Minhoso) e o facto de não possuir casa para albergar os magistrados (construção que só seria levada a cabo no final do século).
Neste aspecto, em relação a outros lugares, a vila de Cinfães ficou a ganhar em termos descritivos, mais do que a maioria das povoações cuja história se encontra redigida no Portugal Antigo e Moderno, como um confuso amontoado de notícias infundadas…
Nuno Resende, Historiador
Nasceu na vila de Cinfães em 1978