Em clima de eleições autárquicas não podiamos deixar passar um interessante e raro testemunho sobre a condução do processo eleitoral municipalista, em Cinfães, no século XIX. Trata-se de um excerto epistolográfico extraído do espólio documental da casa do Revogato, em Oliveira do Douro que alude às estratégias partidárias usadas na campanha para o círculo eleitoral de Cinfães no ano de 1870.
Na carta, dirigida a Manuel Pinto de Vasconcelos, morador na casa da Castanheira, daquela freguesia, pode ler-se as seguintes considerações:
A proxima luta elleitoral, e a circunstancia de afinidade e laços com que a […] este Concêlho, obrigam-me a ir desde já solicitar as bôas relações de V. Exa e a buscar em suas muitas luzes [?] e esclarecida competencia ellementos para por minha parte em humas veredas a precorrer, e para dispôr trabalhos que sem offensa da lei possam dar o resultado que ambos desejamos.
Permita V. Exa que eu interrogue, e por meu termo responderei:
Quem pretende por ahi?
Quem com muita [?] probabilidade?
Pode ter ahi partido
Abade […]? – Em que força?
E Figueiredos, tem ahi relações?
Investir em amigas ? –
Qual será a atitude que tomam estes influentes? – terão pretenções para si, ou para quem? – E Guedes Teixeira? – E Pereira Dias?
Aguardo resposta de V. exa o mais breve possivel (…) [saudação]
[AHCR, doc. 0623, 1870, Setembro, 26]
Do teor pouco elaborado do ofício, não assinado e cuja caligrafia dificulta a leitura, podemos entrever tratar-se de um pedido de ajuda quanto a apoios a obter na candidatura de outrém. Entre o leque de estratégias a considerar pelo político redactor, salienta-se o favorecimento partidário, o apoio de certo abade local e até o recurso ao lenocínio como forma de aliciar certas figuras influentes locais.
O doutor Manuel Pinto de Vasconcelos foi um político liberal, presidente da câmara de Cinfães na década de 60 do século XIX.