O comendador Victorino Amaral (1858-1926)

VICTORINO VAZ PINTO DO AMARAL
Fundoais, Oliveira do Douro Cinfães – 1858-1926
Industrial emigrante e filantropo
Comendador Victorino Vaz Pinto do Amaral (1858-1926). Foto de Livro de ouro de homenagem ao Brazil e Portugal

– Isso era antigamente. Hoje, quando se volta, até se traz mais gordura. Olha o Marques, de Sinfães.
– Eu tenho fé- insistiu Deolinda – que o pai, mesmo sem sair daqui, podia chegar a viver bem.
– Como?
– Não sei; tenho fé.

Ferreira de Castro, Emigrantes, 1928.

A emigração para o Brasil constituiu, em Cinfães, um dos exemplos mais flagrantes do empobrecimento das suas comunidades. Fruto de várias adversidades, desde a pulverização da terra à forte tributação dos produtos nela explorados – tantas vezes sujeitos a maus anos agrícolas – estas e outras condições demográficas forçaram a dispersão da mão-de-obra por outros ofícios e geografias.
Nas classes inferiores os que podiam contrariar a imobilidade social, seguiam ofícios diversos dos dos seus pais e avós, procurando singrar em profissões mais rentáveis e mais bem aceites.
Outros, procuravam destinos distantes para pagar com a força braçal um futuro que se esperavam mais promissor em relação ao que deixavam na terra  natal.
São incontáveis os exemplos de emigrantes em Cinfães. Sem uma estatística conhecida, apenas os registos já recolhidos, alguns deles associados a um rosto, permitem vislumbrar o caminho, nem sempre fácil, destes homens e mulheres. Parece certo, porém, que a maioria não singrou como desejava no trilho do êxito, como achava Deolinda, personagem do romance «Os Emigrantes» de Ferreira de Castro, que até alude a um exemplo de sucesso da emigração, o Marques, natural de Sinfães.
Não obstante a existência de uma clara maioria de massa anónima emigrante, registam-se alguns casos de sucesso, como o de Victorino Vaz Pinto do Amaral que, tendo nascido em Fundoais, a 29-10-1858, emigrou para o Brasil apenas com 13 anos de idade, em 1871 (nota 1).
Instalou-se no Rio de Janeiro e de empregado do comércio, alcançou o estatuto de empresário das indústrias do sabão e das velas.
O seu percurso como industrial, não o afastou, quer da sua terra, quer do auxílio ao próximo. Foi filantropo e benemérito de várias instituições ligadas à comunidade portuguesa no Brasil, tais como a Real Sociedade Beneficiencia Portugueza (da qual possuía a Cruz Humanitária);  o Real associação Beneficente Condes de Matosinhos e de S. Cosme do Valle (de que era grã-Cruz e Grande Dignitário), o Real Centro da Colonia Portugueza e a Associação dos Empregados do Commercio do Rio de Janeiro (nota 2).
Em 1901 criou-se no Rio de Janeiro a «Caixa de Caridade Victorino do Amaral», homenegeando a actividade caritativa daquele cinfanense emigrante. O rei D. Carlos premiou a sua obra social e concedeu-lhe o título da Comenda de Mérito Industrial a 14-11-1907 (nota 3).
Foi o comendador Victorino um dos responsáveis pela preparação da recepção do rei D. Carlos ao Brasil em Junho de 1908 – viagem que não se chegou a realizar pela morte prematura do monarca e do seu filho, assassinados a 1 de Fevereiro daquele ano. No entanto o seu nome ficou registado na obra que comemoraria esse evento, sendo aí elogiado como um «comerciante honesto e probo».
Regressou a Portugal no fim da sua vida, tendo falecido em Fundoais a 18-10-1926, de onde eram naturais os seus pais, Manuel Vaz Pinto do Amaral e Maria de Jesus (nota 4).

NOTAS:
1) – Arquivo Distrital de Viseu [ADV], Governo Civil, Passaportes, cx.3399 nº600/5 f.75v-76;
2) – Cf. [S.a.] – Livro de ouro de homenagem ao Brazil e Portugal. Lisboa: [Escola Typographia das Officinas de S. José], 1908.
3) – Arquivos Nacionais – Torre do Tombo – Registo Geral de Mercês de D. Carlos I, livro 1, fl. 2.
4) – O livro paroquial respeitante ao ano do seu assento de baptismo não se encontra depositado nem no Arquivo Diocesano de Lamego, nem nos fundos do Arquivo Distrital de Viseu. Contudo, através do baptismo de um seu irmão chamado Constantino, sabemos serem pais de ambos Manuel Vaz Pinto do Amaral e Maria de Jesus (ele proprietário), avós paternos Francisco Vaz Pinto e Josefa de Jesus, ambos de Fundoais e avós maternos Joaquim Teixeira e Maria de Jesus, do Lodo. Foi padrinho deste irmão Vitorino Pinto Correia, escrivão de direito, É provável que o tenha sido também do antecessor, explicando-se assim a origem do nome do futuro comendador, cf. Arquivo Diocesano de Lamego [ADL], Paroquiais, baptismos, ano de 1861, assento n.º 7, fl. 3.

About the author

Nuno Resende, Historiador
Nasceu na vila de Cinfães em 1978

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