Fornecer textos, materiais de estudo e investigação científica e didáctica nas áreas da História, Antropologia, Sociologia e Arte para o conhecimento do Passado e do Presente do actual município de Cinfães (constituído em 1855). Perante a má qualidade da informação veiculada pelas monografias locais e regionais, e pela propaganda turística oficial, propomos utilizar a internet como espaço de divulgação e discussão de assuntos estritamente dedicados à educação histórica e social como forma de sensibilizar jovens e adultos para a importância da História e do Património enquanto impulsionadores de desenvolvimento e garantes de progresso.
As diferenças entre as duas imagens (figura 1), aqui justapostas, da fachada dos paços do concelho de Cinfães, recortadas de dois bilhetes postais ilustrados que podem ser visualizados aqui e aqui, são notórias a vários níveis. Desde logo a inexistência de reboco na fachada e de gradeamentos delimitando o espaço público da envolvente do edifício, na primeira imagem, pode indicar que o mesmo se encontrava em construção. De facto, a edificação dos Paços do concelho iniciada em 1892 parece ter-se prolongado até ao século seguinte e neste sofreu vicissitudes várias, como o incêndio que em 1918 destruiu praticamente todo o recheio. Mas um elemento em particular contribui para confirmar a distância cronológica entre ambas as imagens. De facto, na primeira fotografia consegue perceber-se a existência da coroa sobre o brasão nacional, ao passo que na segunda esse brasão desapareceu (figura 2):
Fig. 2
:
A circunstância para tal, embora injustificável, só pode compreender-se no decurso da implantação da República, a 5 de Outubro de 1910. Desejosos de apagar qualquer reminiscência do regime anterior, os aguerridos republicanos de Cinfães mandaram eliminar a pedra que representava a coroa aposta sobre o escudo nacional.
Mas se não tal não bastasse, há outro elemento que, no recorte da fotografia do 2.º bilhete-postal ilustrado nos remete para outra estratégia dos homens do novo regime: a alteração da toponímia. De facto, embora desconheçamos qual seria o nome anterior do largo que ladeava o edifício dos paços do concelho (onde hoje se ergue o novo Pelourinho), depois de 1910 ele passou a chamar-se Praça Paes Gomes, como indica um letreiro colocado na esquina da fachada dos Paços do Concelho (figura 3) – local de encosto e conversa de alguns transeuntes:
Quem era Paes Gomes?
Ricardo Pais Gomes (1868-1928) foi um advogado, maçon, republicano e, no novo regime, o primeiro Governador Civil de Viseu. Embora o ligasse a Cinfães apenas o cargo e a sua filiação ideológica, foi o suficiente para que as primeiras edilidades o considerassem digno de baptizar uma das (poucas) praças da vila de Cinfães.