Introdução
1. Na revista humorista António Maria, na edição de 4 de Agosto de 1881 aparece uma caricatura ao «deputado de segundos», o de Cinfães, vendo-se um homem pequeno ligado a outro, maior, por um cordão de relógio de bolso (imagem 1).
A sátira parece aludir ao caso de Alberto Pimentel, que foi indicado ao círculo eleitoral de Cinfães, na vez do explorador Serpa Pinto. Na sua autobiografia, intitulada «Luar de Saudade» (1925), o escritor, cuja família paterna estava ligada a Souselo, conta as peripécias associadas à sua candidatura pelos meandros da política partidária, decididas a partir de Lisboa. Serpa Pinto e Alberto Pimentel pertenciam ao partido Regenerador (Centro-Direita) que, juntamente com o Progressista (Centro-Esquerda), partilharam o poder no Portugal de finais do século XIX, num fenómeno que ficou conhecido como o «rotativismo».
Num ensaio que tivemos oportunidade de publicar na Revista de Portugal, em 2015, fizemos o elenco de várias personagens, a maioria políticas, que a ficção literária de oitocentos fez nascer ou viver em Cinfães, como o comendador Inácio Leituga, arquétipo do oportunista político, ou o dr. Tibúrcio o qual, escreveu Camilo nas Noites de Lamego, fora «eleito por Sinfães – acho que foi por Sinfães, devia ser por Sinfães – um alfobre de deputados talentosos que vem sempre á luz politica por aquele ventre laxo e fecundo de Sinfães».
Ficção ou verosimilhança, Cinfães despertou o interesse de vários intelectuais do século XIX, como Eça, Camilo ou Sampaio Bruno, que não pouparam nas tintas quanto a traçar um certo perfil do político cinfanense: provinciano, fanático político ou catavento oportunista e, quase sempre obscuro indivíduo de um obscuro rincão no interior português – perfeito para dar corpo a pseudónimos na discussão política num tempo de aguerrida política, como se infere do curioso opúsculo, publicado em Lisboa em 1892, sob o título Opusculo de verdade e razão, resppeitosamente offerecido ás profundas meditações do Ill.mº e Ex.mº Snr Conselheiro José Pedro d’Oliveira Martins, por um Irmão da Misericórdia de Sinfães. Ora, em 1892 não existia ainda uma Santa Casa da Misericórdia em Cinfães.
2. A lei eleitoral também foi mudando quer ao longo do século XIX, ainda em Monarquia Constitucional, quer no século XX, ao longo das III Repúblicas. Contudo, uma das características que os aproxima é a constante discussão e utilização de círculos plurinominais e círculos uninominais, os primeiros elegendo vários deputados e os segundos um, apenas.
Estes círculos variaram em extensão e, naturalmente, em número de eleitores de eleitores. Entre as características do eleitor em Monarquia contava-se o saber ler e escrever, ser maior de idade (acima de 25 anos) e auferir um rendimento anual superior a 100$000 ou 200$000 réis (cem/duzentos mil réis).
Foi apenas durante a Monarquia que Cinfães se constituiu como círculo uninominal contribuindo para as Cortes com deputados «seus» entre 1860 e 1900. Facto importante para o reconhecimento da geografia em termos de eleitores e elegíveis. Não será alheio a esta situação ter sido este período como um dos mais importantes do ponto de vista do investimento em obras infraestruturais, devidas com certeza à intervenção de alguns deputados por este círculo.
3. A Cinfães ligam-se vários nomes de deputados, cuja identificação é hoje possível, graças aos estudos editados pela Assembleia da República. Os vários dicionários sobre parlamentares, presidentes, senadores e outros membros das Cortes e da Assembleia da República permitem ter uma noção muito mais clara da intervenção de cada representante político no principal órgão da Monarquia liberal e das Repúblicas Democrática portuguesas. Contudo, não podemos deixar de reparar nessas obras que, no caso de alguns cinfanenses, há um desconhecimento injustificado quanto a elementos vitais para a construção biográfica de cada um, como a data de nascimento, óbito, filiação, etc.
Tentaremos colmatar essas falhas no presente trabalho, passando a elencar deputados que serviram Cinfães, deste concelho originários ou a ele ligados pelo serviço político representativo:
MONARQUIA (1822-1910)
Às Cortes Constituintes (1822), as segundas que se realizaram por eleição, ainda que indirecta, foram deputados naturais do actual município de Cinfães, representantes da Beira Alta e do círculo de Lamego:
Francisco Pinto Brochado de Brito (n. 1778). Natural de Cinfães (então concelho de São Cristóvão de Nogueira). Nasceu na casa da Porta, freguesia de São Cristóvão de Nogueira, filho de Francisco Vieira dos Santos Brochado e de Mariana Margarida Pinto de Noronha e Vasconcelos. Formou-se em direto, na Universidade de Coimbra (1796-1801) exercendo a profissão de advogado.
Basílio Alberto de Sousa Pinto (n. 1793-f. 1881). Natural de Cinfães (então concelho de Ferreiros de Tendais). Nasceu no lugar do Carvalhal de Fundoais, freguesia de Oliveira do Douro, filho do Doutor José de Sousa Ribeiro (também formado em Direito) e de Bernarda Correia Pinto de Resende. Formou-se em direito, na Universidade de Coimbra (1811-1817), onde foi lente catedrático e Reitor. Foi eleito para as Cortes Constituintes, pelo Porto, em 1821, sendo reeleito por Lamego no ano seguinte. A imagem 2, à esquerda, reproduz uma pintura de Basílio Alberto como reitor da Universidade de Coimbra (pub. Reitores da Universidade de Coimbra, 1951), cargo que ocupou entre 1859 e 1863, tendo então sido profundamente contestado pelos estudantes.
Às Cortes em Monarquia Constitucional (1834-1910) identificámos os seguintes deputados:
António Dias de Oliveira (1804-1863). Natural de Valongo formou-se em Leis pela Universidade de Coimbra. Serviu as Cortes em vários cargos, nomeadamente o de Presidente das Cortes Gerais e Extraordinárias Constituintes. Não tinha qualquer ligação a Cinfães, mas foi proclamado como deputado por este círculo na XIII legislatura, entre 1861-1864, tendo falecido no decurso da mesma.
Ricardo Augusto Pereira Guimarães (1830-1889). Natural do Porto foi escritor e jornalista, agraciado com o título de Visconde de Benalcanfor. Amigo de Camilo Castelo Branco destacou-se na política e na literatura, tendo escrito e publicado inúmeras crónicas e livros. Entrou para as Cortes como deputado em 1860 e foi eleito pelo círculo de Cinfães (n.º 78) em 1865, na XV legislatura. Nesta posição interveio sobre os melhoramentos municipais, certamente referindo-se às necessidades que o jovem município de Cinfães (criado em 1855) sentia pelas suas características geográficas.
Ricardo Maria de Melo Gouveia (1825-1878). Natural de Coimbra foi bacharel formado em Direito, oficial do Tesouro Público e 2º oficial da Secretaria da Fazenda em Lisboa e secretário da mesa da Câmara. Foi indicado e eleito pelo círculo de Cinfães (n.º 74) na XX Legislatura, como regenerador. Teve uma intervenção apagada enquanto parlamentar e para a região que representou (Cinfães e Castro Daire) apenas se assinala um requerimento seu sobre a paragem das obras da estrada entre Lamego e Castro Daire (representou este círculo em 1868).
João da Costa Brandão e Albuquerque (1830-1904). Natural do Sabugal. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Trabalhou no Ministério das Obras Públicas, na repartição de Estatística da Direcção-Geral do Comércio e Indústria, tendo sido responsável pelos censos demográficos de 1864 e 1878. Na publicação deste último (1879) apresenta-se como «Bacharel formado em direito, empregado na repartição de estatística, deputado da nação pelo círculo de Sinfães». Efectivamente tomou posse por este círculo (n.º 65) na XII legislatura, entre 1878-1879, embora não se lhe conheçam intervenções a respeito da geografia dos seus constituintes.
Alberto Augusto de Almeida Pimentel (1849-1925). Natural do Porto tinha ascendência, por via paterna em Souselo, Cinfães. Dedicou grande parte da sua vida à escrita, destacando-se, juntamente com Camilo (de cuja obra era cultor), como um dos mais profícuos redactores do século XIX. Publicou quase uma centena de trabalhos, alguns deles ligados à sua geografia familiar e sentimental. Foi indicado pelo partido Regenerador e eleito para o círculo de Cinfães (n.º 65 com Resende) na XXIV legislatura (1881-1884), sendo a sua candidatura marcada pelo confronto com o explorador Serpa Pinto, a quem tinha sido prometido o círculo da sua naturalidade. Alberto Pimentel conta na sua autobiografia «Luar de Saudade» como o fizeram deputado e o receio de confrontar Serpa Pinto, de carácter facilmente irascível. Estando o explorador em viagem do Brasil e tendo «comprado fora da barra um maço dos últimos quinze dias do Diário de Notícias, que alguns marítimos ali iam vender aos passageiros, e não vendo o seu nome proposto pelo círculo de Sinfães, mas sim o meu, ficára exaltadíssimo, desesperado, bradando que ia telegrafar ao rei, ao Fontes e a todos os Ministros». Eleito, Alberto Pimentel projectou o nome de Cinfães, quer pelas intervenções que a seu favor fez na Câmara, quer pela condição de escritor. Deve-se-lhe a redação de um interessante trabalho, intitulado «O Hospital de Sinfães», publicado em 1884 e onde discorre sobre a necessidade de uma ponte sobre o Douro, para ligar o município à via-férrea, assim como a criação da Misericórdia e de um hospital – obras que se vieram a concretizar, mas anos depois da sua passagem pelo círculo. Na imagem 3 Alberto Pimentel em 1869 (com 20 anos).
Martinho José Pinto Meneses de Sousa Melo Almeida Correia de Miranda Montenegro de Vasconcelos Pereira de Bulhões (1848-1923), Natural de Castelo de Paiva, onde nasceu, na Casa da Boavista. Formou-se em Agricultura. Integrou o Partido Progressista pelo qual foi deputado em várias legislaturas, nomeadamente pelo círculo de Cinfães (n.º 52 com Resende), entre 1884 e 1890 (legislaturas XXV a XVIII). Foi o deputado que durante mais longo tempo representou o círculo de Cinfães, de onde eram naturais os seus antepassados e onde possuía um dos seus solares: a Casa ou Quinta do Paço, cujo portão se situava junto à igreja matriz. Embora se não conheçam intervenções na Câmara a propósito de Cinfães, foi durante o tempo em que representou o círculo que se construiu a ponte de Porto Antigo (1894), os novos edifícios dos paços do concelho e diversos melhoramentos viários (como a ponte da Bateira, sobre o Paiva ou o troço da actual estrada 222), que geralmente lhe são imputados, ou à acção da sua influência junto do Governo, em Lisboa.
Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto (1846-1900). Natural do lugar das Poldras, freguesia de Tendais. Militar, destacou-se pela expedição que fez, em parte com poucos recursos, de Angola à costa do Índico entre 1877 e 1879. Este feito catapultou o seu nome a nível nacional e internacional. Com uma carreira construída no exército, Serpa Pinto entrou para a política pela mão Partido Regenerador, em 1881, quando, todavia, o seu nome foi preterido pelo de Alberto Pimentel pelo círculo de Cinfães. Apresentou uma candidatura independente, mas retirou-a por não pretender concorrer contra outro regenerador. Foi depois deputado nas legislaturas de 1887-1889, e 1893 pelo círculo de Lisboa e na de 1890-1892 pelo de Cinfães. Como se sabe este período correspondeu à questão do Ultimatum para a qual contribuiu como participante numa viagem de exploração com Álvaro Castelos e Alvaro Temudo, pelo curso do Zambeze. As suas preocupações foram no sentido de participar na discussão sobre as possessões em África, tendo nesta altura integrado a Comissão Parlamentar da Guerra, Negócios Estrangeiros e Ultramar. Nesta legislatura apresentou ainda o projecto de lei n.º 4-A sobre redução do subsídio de deputados, mas nada se sabe sobre eventuais contributos para a sua terra natal, Cinfães. O seu nome foi ainda apresentado à XXXIII legislatura, pelo círculo de Cinfães, mas perdeu as eleições na sua terra natal, para o progressista Artur Montenegro. Fez ainda parte de várias comissões políticas, a maior parte ligadas à sua vida como africanista e explorador. Na imagem 4 (extraída da biografia redigida pela sua filha em 1937) um Serpa Pinto político, como aquele em que reparou Fialho de Almeida: «Serpa Pinto vae agora ao parlamento, de claro: veston curto, cabello em poupas, manta escarlate, e ramo na lapella. Ar domingueiro, que apaga a ideia do heroe, e impregna o homem de guerra d’uma pronunciada saburra de valsista».
Artur Pinto de Miranda Montenegro (1871-1941). Nasceu em Lisboa, filho do general Augusto Pinto de Miranda Montenegro, sobrinho por via ilegítima do 1.º Conde de Castelo de Paiva. Em 1892 formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, obtendo o doutoramento em 1895 e tornando-se lente catedrático em 1897. O partido progressista apresentou-o pelo círculo de Cinfães (n.º 52, 46, 55), onde ganhou nas legislaturas XXX a XXXIII (1894-1900), inclusive contra o explorador Serpa Pinto que se candidatou pouco tempo antes da sua morte, em 1900. Foi, juntamente com o seu tio-avô, o Martinho José de Bulhões, um dos dois deputados que mais tempo esteve à frente da representação do círculo cinfanense.
A partir de 1901 o círculo de Cinfães passou a integrar o círculo plurinominal com sede em Lamego.
REPÚBLICA (1910-2021)
I República (1911-1926):
Não houve nenhum deputado de Cinfães a integrar a 1.ª Assembleia que se realizou a 28 de Maio de 1911, sob o regime republicano imposto pelo golpe de 5 de Outubro do ano anterior. O que não quer dizer que não existissem destacados cinfanenses republicanos (deles falaremos quando tratarmos a República em Cinfães). Existiam e eram bastante aguerridos, como se prova pela destruição da coroa sobre as armas do município, logo a seguir à implantação do novo regime. Integravam as profissões liberais, nomeadamente os bacharéis formados em Direito pela Universidade de Coimbra condição que , como vimos, era sine qua non para quem pretendia singrar no mundo da política.
Não sendo natural de Cinfães, mas representando o Distrito de Viseu como senador, Ricardo Pais Gomes (1868-1928) esteve numa visita oficial ao concelho em 1912. Vale a pena transcrever a sua comunicação que a este propósito fez na Assembleia (sessão legislativa de 1911-1912, n.º 85, 9-5-1912)
«Um dos primeiros concelhos que visitei, foi o de Sinfães, ao norte do distrito de Viseu; e devo dizer que principiei pelo norte daquele distrito, porque averiguei que era essa região importante que, com a sede não tinha quási comunicação de ordem alguma e, por isso menos relações tinham com ela, decidi-me a visitar o concelho de Sinfães. Mas vendo o itinerário que deveria seguir, reconheci que teria de passar o Douro, quero dizer, ir a um distrito diferente, para tornar á entrar no de Viseu verificando na viagem que, a certa altura, as comunicações vulgares de estradas de macadam, desapareciam, para entrar em caminhos que não se descrevem e só se apreciam bem, vendo-os, como eu os vi, e conseguindo-se vencê-los devido aos prodígios de equilíbrio, que as cavalgaduras que nos conduzem fazem, mercê do treno que tem de tais caminhos. Eu vi, Sr. Presidente, que esse concelho está completamente isolado do resto do distrito, apenas com um pedaço de estrada interior. Até uma grande distância da sede do concelho, esses caminhos eram de tal forma impossíveis de transitar, que me informaram de que os vulgares carros de bóis, em determinados sítios, para poderem seguir, precisam levar duas juntas, uma à frente, outra atrás para que tudo aquilo se não precipite por íngremes ribanceiras.
Foi nestas condições que, aparecendo quási de surpresa naquele concelho, me foi apresentada como reclamação instante do seu povo, de necessidade urgente, imediata, a continuação duma estrada que estava já feita, em parte, até o sítio conhecido por Capela de Santo António, e a cujo estudo, na parte que restava para abrir, há muito se tinha procedido, dependendo apenas da autorização competente o completá-la.
Em face do que vi e me expuseram, entendi do meu dever dirigir-me ao então Ministro do Fomento, expor-lhe essas circunstâncias, e a necessidade inadiável de mandar proceder à abertura daquela estrada».
A estrada de que fala o senador Paes Gomes é parte da futura estrada nacional 222, troço mandado abrir em tempo da representação do Conde de Castelo de Paiva para ligar a vila ao Douro e à ferrovia e depois parada entre as Pias aquela localidade. O município homenageou-o baptizando o largo fronteiro à câmara com os seus apelidos.
Mas esta visita poderia ter outra razão, com intuitos menos sociais e mais políticos: a de trazer a República até Cinfães que pela sua situação isolada seria menos permeável ao novo regime.
Uma carta de 21 de Setembro de 1911, enviada por Abílio Almeida a Bernardino Machado, revela-nos até que ponto a República fora recebida e era cumprida em Cinfães. O segundo nome é bastante conhecido da História de Portugal a ele se dirige um jornalista cujos ideais republicanos o levavam a catequizar os leitores através de jornais afectos ao novo regime. No Brasil Abílio de Almeida fundara o jornal Paulistano e viera a Portugal, a Cinfães, «para ir desbravando terreno e desmoronando o fundo monárchico que este concelho, encapotado, ainda se obstina em ser». Aqui fundou o jornal Echos de Sinfães, de que conhecemos alguns números publicados entre 1911 e 1913. Para «evangelizar» os cinfanenses e republicanizá-los era preciso que o jornal fosse lido e, neste sentido, pede a Bernardino Machado para que o governo lhe atribua a publicidade institucional e que o mesmo jornal seja divulgado entre as coletividades republicanas para dessa forma assegurar assinaturas.
Entre os nomes que se conhecem de republicanos cinfanenses, a maioria saída das fileiras de Coimbra, na viragem da Monarquia para a República, destaca-se o de Alfredo Teixeira Pinto Leão, a que Guerra Junqueiro dedicou o seu livro Musa em Férias (1879). Formado em Coimbra, em Direito (1868-1873), Alfredo Pinto Leão tornou-se pedagogo tendo publicado uma importante obra para a História do Ensino em Portugal: Livro de Leitura Para as Escolas de Instrucção Primária (1876).
O primeiro deputado cinfanense à Assembleia da República que identificámos foi, contudo:
Amadeu Leite de Vasconcelos, sobre quem o dicionário de Parlamentares e Ministros da 1.º República (ed. Assembleia da República, 1999) diz «deputado cuja biografia se desconhece, eleito para a legislatura de 1922-25».
Amadeu Leite de Vasconcelos nasceu a 29 de Novembro de 1873, na Quinta da Raposeira, sendo filho de António Leite Lacerda e Vasconcelos Medeiros, natural do lugar da Ponte de Louredo da freguesia de São Cristóvão de Nogueira e de Maria Júlia Carneiro de Sousa Pinto de Penhalonga, Marco de Canaveses. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra (1894-1899) tendo exercido advocacia em Cinfães onde era conhecido como o Deputado da Ponte (alusão às suas raízes paternas). Foi deputado pelo círculo de Cinfães, Resende, Tabuaço, Moimenta da Beira, São João da Pesqueira e Lamego entre 1922 e 1925 (VI Legislatura). Não se conhecem intervenções suas sobre Cinfães, durante o seu mandato. Do lado esquerdo (imagem 5) uma carte de visite com o seu retrato, datada de Coimbra, do seu ano de finalista (colecção APIF-NR)
Naturais ou com ligações a Cinfães, também deputados na I República, foram os seguintes:
Alexandre Barbedo Pinto de Almeida (n. 1887), filho de António Pinto de Almeida e Maria do Céu Barbedo Pinto, foi um bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra (1907-1911) e Administrador do Bairro Ocidental do Porto, eleito em 1919 pelo círculo de Santo Tirso. Os Barbedos do Porto, de quem Alexandre descendia eram negociantes na Rua das Flores, burguesia ligada aos movimentos republicanos da cidade.
Aníbal Pereira Peixoto Beleza (n. 1876-f. 1949) filho de Constantino Camilo Beleza de Vasconcelos e de Maria Cândida Pereira Peixoto, de Travanca, Cinfães. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra (1897-1902), foi apresentado e eleito pelo Partido Democrático, em 1925, pelo círculo de Oliveira de Azeméis.
Abel Hipólito (1860-1969) Militar. Nasceu em Viseu e foi senador por este círculo em 1919, ano em que defrontou as tropas afectas à monarquia do Norte e por cuja vitória ganhou o generalato. Em Cinfães desenrolaram-se algumas das operações, num país dividido entre um Norte realista e um centro e sul controlado pelos republicanos em Lisboa. Um dos efeitos nefastos para o município foi a dinamitação da ponte de Porto Antigo, cuja culpa no acto foi jogada entre uns (monárquicos) e outros (republicanos). A ambos interessavam o corte de comunicações entre as margens do Douro, sendo este rio poderoso defensor da situação vigente. Acabaram culpados os vencidos e Abel Hipólito que integrou o júri do tribunal militar que julgou os monárquicos, passou à História como herói.
João de Barros (1881-1960). Escritor português, formado em Direito, foi também notável político associado já em tempo de República, à ala Esquerda do Parlamento, onde tomou assento, entre 1915 e 1918 pelo círculo eleitoral n.º 16 (Moimenta da Beira, Armamar, Tabuaço, Sernancelhe, Castro Daire e Cinfães). Tempo de Sidonismo, de movimentações de bastidores que levaram à morte do Presidente-Rei, como lhe chamou Fernando Pessoa, não se conhecem intervenções de João de Barros em prol do território de Cinfães.
II República ou Estado Novo (1933-1974)
O regime imposto pela Constituição de 1933, conquanto admitisse eleições, apresentava uma solução de partido único. Não se conhecem deputados naturais de Cinfães na Assembleia Nacional, não obstante se identificarem vários indivíduos em lugares de poder durante este período, alguns próximos de Salazar e dos seus ministros. É caso do Monsenhor António Manuel da Silva Pinto Abreu (1866-1948), director do Colégio Vasco da Gama, proprietário das Casas de Revogato, Castanheira e Calçada em Oliveira do Douro; de Carlota de Serpa Pinto, filha do explorador africanista, que passava longas temporadas no seu chalet do Paço, junto a Fundoais e a família Martins de Carvalho, que por casamento se uniu às facções monárquicas integralistas formadas depois de 1912.
A este respeito importa referira, ainda, o Conselheiro Martins de Carvalho, que tem uma rua baptizada com o seu nome em Cinfães não era cinfanense, embora o fosse sua mãe. Nasceu em Lamego, filho de Francisco Augusto Martins de Carvalho e de Rosa Guilhermina Miranda Pinto, esta descendente de famílias da freguesia de Cinfães. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra (1886-1891), iniciou o seu percurso político pelo republicanismo, a que aderiu provavelmente durante a o tempo da academia (onde ingressou com 14 anos!), passando depois pelo partido progressista. Foi deputado em 1901, 1905, 1906 e 1906 por vários círculos do centro do País. Interveio na criação da Fundação da Casa de Bragança, aproximando-se à política de Salazar e do Estado Novo que se reflectem na arquitectura escolhida para o seu solar edificado em Cinfães, de Santa Bárbara.
Não podemos deixar de chamar também a atenção para o nome de Alexandre Alberto de Sousa Pinto (1881-1982), neto por parte paterna de Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto, conhecido matemático, da ilustre geração de políticos e cientistas nascidos em Fundoais, Oliveira do Douro. Foi deputado nas IV e V legislaturas (1945-1953), por Moçambique. Foi, também reitor da Universidade do Porto (1928-1931).
III República (d. 1974)
Desde 1974 até à data identificámos os seguintes deputados naturais de Cinfães:
Alcino Cardoso (1927-2013). Natural de Ferreiros de Tendais. Em 1976, na I Legislatura, foi deputado do CDS à Assembleia da República. Em 1978, assumiu funções governativas, no II Governo Constitucional, como Secretário de Estado do Comércio e Indústrias Agrícolas (coligação PS/CDS).
João Soares Pinto Montenegro. Natural de Cinfães. Deputado eleito pelo Partido Social Democrata na V legislatura (1987-1991)
Ademar Sequeira de Carvalho(fal. 2016). Natural de São Cristóvão de Nogueira. Deputado eleito pelo Partido Socialista na V legislatura (1987-1991)*.
Maria da Graça da Mouta Silva Reis (1972). Natural do lugar de Aveloso, freguesia de Tendais. Professora. Eleita pelo Partido Socialista, no círculo de Viseu.
* Agradecemos a lembrança deste nome ao Sr. Presidente da Junta de Freguesia de São Cristóvão de Nogueira, Dr. Paulo Vasconcelos.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E REFERENCIADA
[S.a.] – Opusculo de verdade e razão, resppeitosamente offerecido ás profundas meditações do Ill.mº e Ex.mº Snr Conselheiro José Pedro d’Oliveira Martins, por um Irmão da Misericórdia de Sinfães. Lisboa : Typ. Mattos Moreira, 1892
[S.a.] – «Almeida, Alexandre Barbedo Pinto de». In Marques, A. H. de Oliveira, coord; Guinote, Paulo; Mesquita, Pedro Teixeira; Dias, João José Alves – Parlamentares e ministros da 1.ª República Portuguesa (1910-1926). Lisboa: Assembleia da República, 1999, pp. 80-82
[S.a.] – «Beleza, Aníbal Pereira Peixoto». In Marques, A. H. de Oliveira, coord; Guinote, Paulo; Mesquita, Pedro Teixeira; Dias, João José Alves – Parlamentares e ministros da 1.ª República Portuguesa (1910-1926). Lisboa: Assembleia da República, 1999, pp. 118-119.
[S.a.] – «Hipólito, Abel». In Marques, A. H. de Oliveira, coord; Guinote, Paulo; Mesquita, Pedro Teixeira; Dias, João José Alves – Parlamentares e ministros da 1.ª República Portuguesa (1910-1926). Lisboa: Assembleia da República, 1999, pp. 247-248.
[S.a.] – «Vasconcelos, Amadeu Leite de». In Marques, A. H. de Oliveira, coord; Guinote, Paulo; Mesquita, Pedro Teixeira; Dias, João José Alves – Parlamentares e ministros da 1.ª República Portuguesa (1910-1926). Lisboa: Assembleia da República, 1999, p. 432.
ALBUQUERQUE, João da Costa Brandão e – Censo de 1878 : relação das freguesias do Continente e Ilhas : população, sexos, fogos…Lisboa: Tip. Universal, 1879.
ALMEIDA, Fialho de – Os gatos. Porto: Casa editora Alcino Aranha, n.º 7, 1890 (Julho), p. 17.
SARAIVA, João; CAMPOS, Agostinho de, pref.; SOUSA, Alberto de, des. – Sinfaníadas. Lisboa: Livraria Bertrand, 1938.
BORRECHO, Maria do Céu – «PINTO, Basílio Alberto de Sousa – 1.º Visconde de São Jerónimo». In CASTRO, Zília Osório de, dir.; CLUNY, Isabel, coord.; PEREIRA, Sara Marques, coord. – Dicionário do Vintismo e do primeiro Cartismo (1821-1823 e 1826-1828). Lisboa: Assembleia da República, 2001, vol. 2, pp. 421-423.
CASTELO BRANCO, Camilo – Noites de Lamego. Lisboa: Parceria Antonio Maria Pereira, 1908. ISBN:
CHAVES, Maria José Maciel – «ALBUQUERQUE, João da Costa Brandão e (1830-1904)». In MÓNICA, Maria Filomena, coord. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. I (A-C). Lisboa: Imprensa de Ciências Socias/Assembleia da República, 2004, p. 95.
JUNQUEIRO, Guerra – A musa em férias: idilios e satiras. Lisboa : Typ. das Horas Romanticas, 1879.
LEÃO, Alfredo Teixeira Pinto – Livro de leitura para as escolas de instrução primária. Porto : Typ. de Manoel José Pereira, 1876.
MARQUES, Maria Adelaide – «OLIVEIRA, António Dias de (1804-1863)». In MÓNICA, Maria Filomena, coord. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. III (N-Z). Lisboa: Imprensa de Ciências Socias/Assembleia da República, 2006, pp. 98-99.
MORAIS, Francisco – Reitores da Universidade de Coimbra. Coimbra: [edição do autor], 1951.
MOREIRA, Fernando – «MONTENEGRO, Artur Pinto de Miranda (1871-1941)». In MÓNICA, Maria Filomena, coord. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. II (D-M). Lisboa: Imprensa de Ciências Socias/Assembleia da República, 2005, pp. 981-983.
MOREIRA, Fernando; CLUNY, Isabel – «BULHÕES, Martinho José Pinto Meneses de Sousa melo Almeida Correia de Miranda Montenegro de Vasconcelos Pereira de (1848-1923), 1.º Conde de Castelo de Paiva». In MÓNICA, Maria Filomena, coord. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. I (A-C). Lisboa: Imprensa de Ciências Socias/Assembleia da República, 2004, pp. 483-484.
PEREIRA, Zélia – «PINTO, Alexandre Alberto da Rocha de (1846-1900), 1.º visconde de Serpa Pinto». In MÓNICA, Maria Filomena, coord. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. III (N-Z). Lisboa: Imprensa de Ciências Socias/Assembleia da República, 2006, pp. 314-317.
PIMENTEL, Alberto – O Hospital de Sinfães. Lisboa: Emp. Litteraria, 1884.
PIMENTEL, Alberto – Luar de Saudade. Lisboa: Livraria Editora Guimarães, 1925.
RESENDE, Nuno – «O “lugar” de Cinfães na sátira literária oitocentista». Revista de Portugal. n.º 12 (2015). pp. 49-56.
SANTOS, Elsa – «BRITO, Francisco Pinto Brochado de». In CASTRO, Zília Osório de, dir.; CLUNY, Isabel, coord.; PEREIRA, Sara Marques, coord. – Dicionário do Vintismo e do primeiro Cartismo (1821-1823 e 1826-1828). Lisboa: Assembleia da República, 2001, vol. 1, pp- 299-303.
SANTOS, Marta Carvalho – «PIMENTEL, Alberto Augusto de Almeida (1849-1925)». In MÓNICA, Maria Filomena, coord. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. III (N-Z). Lisboa: Imprensa de Ciências Socias/Assembleia da República, 2006, pp. 268-270.
SARDICA, José Miguel – «GUIMARÃES, Ricardo Augusto Pereira (1830-1889), 1.º visconde de Benalcanfor». In MÓNICA, Maria Filomena, coord. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. II (D-M). Lisboa: Imprensa de Ciências Socias/Assembleia da República, 2005, pp. 401-403.
SERPA PINTO, Carlota de – A vida breve e ardente de Serpa Pinto. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1937.
Professor. Universidade do Porto. Portugal.